Maurício Scopel Hoffmann

Medicina baseada em evidência

Maurício Scopel Hoffmann

Antigamente, a medicina era baseada apenas na experiência do médico e no raciocínio mecanicista. Por exemplo, os livros de medicina recomendavam, até o início da década de 1990, a lidocaína para o tratamento de infarto agudo do miocárdio. 


O raciocínio mecanicista era o seguinte: Infarto causava problemas no ritmo do coração; Lidocaína regula o ritmo cardíaco; Logo, se acreditava que a lidocaína seria uma boa medicação para tratamento de infarto.

 
No entanto, desde a década de 1970 os estudos já mostravam que essa prática era tão útil quanto tomar um copo d’água para os pacientes que infartavam. Nessa época, se percebeu que apenas conhecer como as doenças e os remédios funcionam não bastava para indicar tratamentos aos pacientes. Os tratamentos precisavam ter comprovação de que de fato funcionavam e, para isto, são testados em centenas de pacientes, comparados com tratamentos sem o princípio ativo (placebo).


Mas o que é a medicina baseada em evidências?

A medicina baseada em evidência (MBE) é a utilização do conhecimento científico para ajudar na tomada de decisão clínica com o paciente. Difundida no Brasil na década de 1990, é o padrão global de boa prática médica. O uso de evidências ajudou todas as áreas da medicina a terem tratamentos e estratégias preventivas capazes de reduzir mortalidade, como as causadas por infeções, câncer e infarto. O treinamento em MBE abrange epidemiologia, avaliação de qualidade da evidência e metodologia científica durante todo o curso de medicina.

 
A MBE faz com que o médico aumente a probabilidade de ajudar o paciente. No entanto, medicamentos e procedimentos sem base científica estão disponíveis, inclusive no SUS, resultando em gastos desnecessários e riscos desconhecidos para a saúde. Portanto, a MBE busca melhorar a prática médica, orientando a escolha informada de opções terapêuticas eficazes.


Cannabis medicinal e psiquiatria

Recentemente foi divulgado um mapa das evidências científicas sobre a eficácia da cannabis medicinal em uma série de problemas de saúde, incluindo transtornos mentais. O mapa, divulgado no WeCann summit em novembro de 2023, advoga que há muitos benefícios. 


São citados 47 estudos que revisaram os artigos científicos sobre o efeito de medicamentos à base de cannabis em pacientes com transtornos mentais. Ao ler esses artigos, observa-se que eles concluem que não há base suficiente para indicar o uso de compostos à base de cannabis para tratamento de pacientes com problemas de saúde mental. 


Nos dias atuais, este tema se restringe ao âmbito de pesquisa, para que se possa entender melhor se existe eficácia e quais os efeitos colaterais destes compostos. Portanto, a prescrição de cannabis medicinal para tratamento de transtornos mentais ainda não pode ser considerada uma prática de medicina baseada em evidência.


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